O Papel Crucial do Médico Veterinário no Controle da Raiva

Hoje, temos o prazer de conversar com a Dra. Adriana Tiemi Akamine, médica veterinária com vasta experiência no campo da saúde animal e pública. Formada pela UNESP em 2006 e mestre pela USP em 2012, a Dra. Adriana tem dedicado grande parte de sua carreira à prevenção e controle de doenças zoonóticas, com especial atenção à raiva. Nesta entrevista, a Dra. Adriana compartilha insights valiosos sobre a importância da vacinação contra a raiva, o impacto da doença na saúde pública e animal, e o papel fundamental dos médicos veterinários nessa luta contínua.


Entrevistador: Qual é a importância da vacinação contra a raiva para a saúde pública e animal?
MV. Msc Adriana: A vacinação contra a raiva é fundamental para prevenir uma doença fatal que pode ser transmitida de animais para humanos. A raiva tem uma taxa de letalidade de quase 100% uma vez que os sintomas se manifestam. Segundo a OMS, cerca de 59.000 pessoas morrem de raiva anualmente, principalmente em países em desenvolvimento. A vacinação protege não só os animais, mas também evita a transmissão do vírus para humanos, reduzindo significativamente o risco de surtos.

Entrevistador: Qual o impacto da raiva como zoonose?

MV. Msc Adriana: A raiva é uma zoonose grave que afeta mamíferos, incluindo humanos. O vírus é transmitido principalmente por mordidas de animais infectados, com os cães sendo a principal fonte em áreas urbanas. Em humanos, causa sintomas neurológicos severos, levando à morte. Nos animais, provoca alterações comportamentais e morte em poucos dias. A vacinação de cães pode reduzir em até 99% a transmissão da doença em áreas de alto risco.


Entrevistador: Quais são os principais objetivos das campanhas de vacinação contra a raiva?
MV. Msc Adriana: As campanhas visam principalmente imunizar populações de animais, cães e gatos, e reduzir a incidência da doença em humanos. Elas criam uma barreira de imunidade que impede a propagação do vírus. A vacinação em massa tem se mostrado uma estratégia eficaz para eliminar a raiva em áreas endêmicas.

Entrevistador: Como os dados epidemiológicos demonstram a eficácia dessas campanhas?
MV. Msc Adriana: Os dados mostram uma clara correlação entre as campanhas de vacinação e a redução dos casos de raiva. No Brasil, por exemplo, houve uma queda drástica nos casos após o início das campanhas sistemáticas nos anos 1980. No Distrito Federal, não foram registrados casos de raiva humana entre 2010 e 2020. No Rio Grande do Sul, não há registros de raiva canina urbana desde 1988. Nacionalmente, a média anual de casos humanos entre 2010 e 2020 foi de apenas 4, um número muito baixo comparado a décadas anteriores.

Entrevistador: Qual é a importância da educação da comunidade nesse contexto?
MV. Msc Adriana: A conscientização da população é crucial para o sucesso das campanhas de vacinação. Quando as pessoas entendem a gravidade da raiva e a eficácia da vacinação, ficam mais propensas a vacinar seus animais. Nós, veterinários, temos um papel fundamental como educadores, fornecendo informações precisas e confiáveis para desmistificar a doença.

Entrevistador: Quais são os principais desafios na implementação das campanhas de vacinação?
MV. Msc Adriana: Atualmente a campanha de rua como foi conhecida, está suspensa em boa parte dos municípios, como São Paulo. Porém, boa parte das cidades contam com postos fixos de vacinação. Aqui em São Paulo, capital, existem diversos postos fixos de vacinação espalhados pela cidade. É importante que os veterinários saibam se seu município possui esse recurso, pois a vacinação contra raiva animal vai além do lucro individual, e sim, é um pacto de saúde coletiva. Nem sempre seu paciente tem recursos para realizar a vacinação contra essa importante zoonose, então, a possibilidade de encaminhamento para o serviço gratuito é muito interessante nestes casos.



Entrevistador: Qual mensagem você gostaria de deixar para os clínicos veterinários sobre a importância da vacinação contra a raiva?
MV. Msc Adriana: A vacinação contra a raiva é uma das intervenções mais eficazes na proteção da saúde pública. Cada veterinário tem um papel vital na prevenção da raiva, não apenas vacinando animais, mas também educando a comunidade e promovendo práticas de manejo responsável. Juntos, podemos construir um futuro livre da raiva, protegendo nossos animais e a saúde da população. Nossa atuação é fundamental nessa luta contra uma doença tão grave e potencialmente fatal.

Referências Bibliográficas
Organização Mundial da Saúde (OMS). (2020). Rabies. Disponível em: https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/rabies
Cleaveland, S., Laurenson, M. K., & Taylor, L. H. (2002). Prophylaxis of rabies in dogs: a review. Veterinary Record, 150(10), 293-298.
Hampson, K., Coudeville, L., Lembo, T., et al. (2015). Estimating the global burden of endemic canine rabies. PLoS Neglected Tropical Diseases, 9(4), e0003709.
Ministério da Saúde. (2021). Boletim Epidemiológico de Raiva. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/centrais-de-conteudo/publicacoes/boletins/epidemiologicos/edicoes/2021
Secretaria de Saúde do Rio Grande do Sul. (2023). Programa Estadual de Vigilância, Prevenção e Controle da Raiva. Disponível em: https://saude.rs.gov.br/raiva

 

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